segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O primeiro aniversário... ;(

O primeiro aniversário27/11/2008 00:00
É irónico chamá-lo de aniversário, mas é isso mesmo. Um ano, Mãe, precisamente um ano passou, desde que decidiste partir.Foi um dia complicado, ainda me ligaste antes de ir almoçar connvosco, para eu ir um bocadinho mais cedo, porque "temos de falar, filha". E eu fui a correr. Como sempre ia, a qualquer "ai" teu ou do Pai (e eram tantos...). E cheguei, 5 minutos depois, a tremer e com o coração a bater tão depressa, como também sempre acontecia. Mas tu já não me quiseste dizer mais nada. Desculpa por não ter chegado a tempo. Mas nunca pensei que o que me querias dizer era o adeus, Mãe, nunca, nunca o sequer imaginei.Vivi anos, pelo menos aqueles que me lembro de já ser gente, e foram muitos, com o medo constante de te perder. Todos os dias, Todas as horas, a cada barulho, a cada sussurro, a cada silêncio. A cada minuto pedia para que nada te acontecer de mal. E ainda assim não percebi, Mãe. Eu, que te conhecia "de ouvido", melhor que a mim mesma talvez, não fui capaz de perceber que estavas de partida. E dizias-me tu, 2 dias antes, sentada no sofá a ver-me a fazer a árvore de natal (nesse ano tão cedo porque o pai lá achou que assim deveria ser e mais uma vez, tinha razão...) "ai filha, já viste como é que vai ser este Natal?" E eu não percebi. O meu forçado e já viciado optimismo se calhar não deixou.Aquela angústia e aflição do Pai, quando ficou na varanda, e eu te levei ao hospital, ainda me custa sequer lembrar. Acontecia naquele momento o desabamento de tudo e eu não percebi. E nunca pensei, Mãe, juro que não, que te ia perder para sempre. Acreditava que quando saía do hospital, no dia seguinte te ia ver. Mal, disso tinha a certeza, mas ia-te ver, Mãe.Eu sei que tiveste o teu outro mais-que-tudo ao teu lado. E isso valeu ouro para ti. Porque quando ainda antes de seres atendida, te disse que "o Rui vem aí, Mãe", entre os teus devaneios, abriste muito os olhos e sorriste. Por isso eu sei que foste feliz. Se calhar quiseste, como o Rui, poupar-me uma noite.Mas espero que me perdoes por não ter lá estado até ao fim. Até ao teu fim. Nunca mais te vou ouvir rir, Mãe. Nem chorar, nem nada. E amanhã de manhã vou me lembrar do desespero, do espanto, da dor, de tudo ter desmoronado à minha volta, de deixar de ouvir, de ver, de chegar com os pés à terra, de tudo ter ruido à minha volta, quando a médica disse que já não te tinha. Foi um dos dois momentos mais cruéis da minha vida. O outro foi ver o Pai antes da partida, mas isso fica para o mês que vem...Eras tudo para mim, Mãe. As tuas dores, as minhas. As tuas alegrias, as minhas.Sei que continuo a ser a tua filha, com o mesmo amor de sempre, nos bons e nos maus momentos. Mas espero que me perdoes, eu tinha que ter estado lá.Sei que foste em paz, partiste por altruísmo - como sempre genuinamente sempre o foste. É o que eu sinto. Mas um ano passou e ainda não consigo imaginar a minha vida sem ti, e sem o Pai. Por mais estupido e incoerente que seja. Mas é isso mesmo.Continuas a ser a Mãe mais linda do mundo, a melhor. Ainda bem que tantas vezes te disse isto! E do quanto eras importante para mim e do quanto te amava. E ano. E vou amar. Por tudo.Por me ajudares daí, desse teu paraíso. Obrigada Mãe. Sem a vossa ajuda, força, amparo, alento, não vou a lado nenhum. E mais uma vez, obrigada pelo irmão que me deram. Ele é agora a minha luz, cá em baixo. Só por isso, vocês devem estar tão felizes!Mas quero que não te preocupes comigo, só quer que me continues a ajudar. Eu sei que a minha vida vai "começar" ou continuar num caminho feliz, tranquilo, sereno, e em paz. Com a vossa ajuda.O pior disto tudo, acredita, é mesmo verdade, é a falta que sinto tua, do Pai. As saudades. A ausência. O silêncio. O vazio.De resto, Mami, tou bem. Com vocês a torcerem por mim, eu chego lá.Obrigada por teres sido e seres a melhor Mãe do mundo. Obrigada.Um ano, caramba. Dói como se tivesse sido ontem. Mas alguém me disse num dia destes que era bonito ter saudades. E é verdade. O pior é quando queimam por dentro. Desculpa não ter ido hoje ao cemitério. Não fui capaz. Não tive coragem, desculpa. Talvez amanhã ou no sábado. Mas tu sabes que passei o dia a pensar em ti. E não vou parar.Saudades, Mamã, tantas, tantas. Conforta-me pensar que estejas em paz, que eu sei que estás. Se estiveres bem, eu também estou, Mãe. Disse-to em vida e digo-to agora.Para sempre vou amar-te com esta força toda. E com esta dor. E com este orgulho. De ti e de ser tua filha.Beijinhos, Mamã. E diz ao Pai que também o amo muito.

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